quinta-feira, 20 de março de 2008

Sobre a música


(ao som de Wolfmother* – Joke and the Thief)

Peço antecipadamente o seu perdão. Sou pragmático no que diz respeito ao bom gosto musical. Ou você tem, ou não. Não existe meio termo. E gosto se discute sim meu senhor, minha senhora. Por isso te digo de antemão que você pode ler algo no desenrolar deste texto que o fará se sentir incapaz, inexpressivo e irracional, talvez até mesmo desprovido de inteligência e raciocínio.

Não que eu seja o dono da verdade ou mesmo um grande entendedor do assunto. Não toco nenhum instrumento. Tentei aprender violão mas não passei do "Pra não dizer que não falei das flores". Nem me arrisco a tentar algum outro. A sombra do fracasso parece me perseguir quando me pego em casa solando "Comfortably Numb" em uma guitarra ilusória. Acho que não consigo passar por mais uma decepção, logo, não toco nada. Também não canto. Nem mesmo hino de clube de futebol. Mas tenho um bom ouvido, uma conexão banda larga, leio muito sobre o tema e tenho mais de 7.000 arquivos MP3. Por isso me considero capaz de divagar um pouco sobre o assunto.

10 verdades sobre a música:

1. Funk é um dos melhores e mais ricos estilos musicais;
2. Britney Spears ainda é virgem, seus filhos são fruto de fertilização in vitro;
3. Música sertaneja não fala só de traição, amor, cachaça, rodeio e banco de praça;
4. Os integrantes do Village People não eram gays;
5. Negritude Jr., Os Travessos e Molejão são os melhores representantes da cultura brasileira;
6. Michael Jackson fez apenas três cirurgias plásticas e nunca se relacionou com crianças;
7. Axé é muito mais do que carnaval e trio elétrico;
8. Ozzy Osbourne nunca usou drogas;
9. Sandy & Júnior são o futuro da Música Popular Brasileira;
10. Elvis não morreu.

Àqueles que realmente acreditam que música clássica é chata, que rock n' roll é coisa de maconheiro, MPB é pra afeminados e blues é coisa de “preto” eu digo categoricamente que viver uma vida inteira sem o prazer de um inverno de Vivaldi, sem a ira de um solo de Jimmy Page, sem a profundidade de uma letra de Chico Buarque, sem a rica simplicidade de Muddy Waters, é como não ter vivido.

* Wolfmother me trouxe de volta a esperança de que um bom rock n' roll ainda pode ser feito.


segunda-feira, 10 de março de 2008

Sobre o iPhone

Há alguns meses tive minha primeira experiência com o iPhone, novo brinquedinho da APPLE. O dispositivo "relativamente" compacto transmite áudio, vídeo, possui câmera digital imbutida, oferece acesso à internet, conexão wi-fi e, pra nossa surpresa, funciona também como um telefone móvel!!!! O teclado é sensível apenas ao calor do toque humano. Você nem vai ter que preocupar em travar o teclado! Aliás, que comentário retardatário!... O smartphone possui teclado virtual e apenas 3 botões físicos, se não me engano.... Um mero detalhe.

Não sei... Sempre fui severamente criticada, mas não consigo assimilar inovações tecnológicas com desenvolvimento positivo, como a maioria o faz. Não tô aqui pra negar que conforto e qualidade de vida me agradam. Não mesmo!... Mas o que nunca consegui ignorar foi o questionamento à respeito das conseqüências à longo prazo.

Existem dados simplesmente incontestáveis. Hoje, crescimentos alarmantes no número de mortes por causas não-acidentais estão diretamente associados à insuficiência alimentar (o que NÃO diz respeito à insuficiência quantitativa), sedentarismo, estresse e depressão - abuso de álcool incorpora-se nestes últimos.

Índices de suicídios em países industrializados e desenvolvidos como Japão, Austrália(pasmem), Dinamarca e França só aumentaram, a partir da segunda metade do século XX.

Não dá pra discordar que desenvolvimento de mecanismos de saneamento básico, investimentos no setor farmacêutico e inovações na área médica ajudam gradualmente a elevar dados relacionados à expectativa de vida, mas, o que me preocupa é a Criação de necessidades que o desenvolver tecnológico revela dia após dia.

O ser humano sobreviveu milênios sem depender intrinsecamente de celulares, de automóveis, lavadoras de roupas, de armas químicas, porta-aviões e de arranha-céus; agora, eu tristemente admito que, levando o ritmo de vida padrão norte-americano que levo, não saberia O QUE FAZER sem uma lavadora de roupas! Adicione aí também uma secadora, porque o quarto que alugo num apartamento de 50 metros quadrados mal suporta minhas parafernálias, quem dirá um varal pra estender roupa molhada.Agora, só restam controvérsias. Ao passo em que nos tornamos dinâmicos e sofisticados, conquistamos vulnerabilidades cada vez mais expressivas. A natureza sempre reclamou, mas nunca fez tanto escândalo como agora, literalmente! California e Louisiana que o digam!

Desde que me mudei pra cá, idas ao supermercados sempre me trouxeram incômodos.

Primeiro pela elevação de preços de produtos ORGÂNICOS, que pra mim, só delineia a proximidade do apocalipse! NÃO tô exagerando, é sério e não ria.

Segundo, as uvas e as melancias. Desde que me entendo por gente tanto uva quanto melancia têm semente. E na real? .. faça-me o bendito favor! Praticamente todo ser humano é capaz de separar a semente da fruta. Convenhamos, não é um esforço tão desumano assim!

Terceiro, idas solitárias ao supermercado me deprimem! ... E nem se você me der um iPhone isso vai mudar!

MT

Texto escrito por MTMS, estudante, já viveu nos EUA, atualmente vive no interiorrrrrr de SP. Tem muita dificuldade para ligar a televisão, colocar o ferro de passar roupa para funcionar ou estourar uma pipoca no microondas. Não tem celular.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Sobre a inspiração

Pau na bunda daqueles que dizem que inspiração é papel e caneta na mão. O caralho que é. Escrever é foda, sem inspiração texto é informe publicitário de funerária. Repito: escrever é foda, ainda mais se for pra escrever a porra do texto sem palavrão.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sobre o fim

Não que eu não tenha medo, às vezes até penso que ficar rodando por aqui por mais um tempo seria bom, mas segundo meu amigo Marcus* (é com “u” mesmo, tipo imperador romano) Vinícius** (também com “u”, como deve ser) o mundo acaba em 2012, algo a ver com inversão dos pólos or something like that, não entendi muita coisa, pois a explicação veio depois de uma dúzia de cervejas de qualidade duvidosa em um buteco (é com “u” mesmo) copo sujo, chão vermelhão, cachorro na porta e pote com ovos de codorna azulados. Too much information.

Só sei que não vai acabar em 2012. Acho até que não acaba mais. Não! Nem vem com a sua retórica tentando me convencer do contrário. Não acaba. Sem essa de dinossauros. Não, somos mais do que eles, seja em número, seja em inteligência. No doubt. Digo isso após ver um documentário da BBC chamado “Last Days on Earth” (não sei se tem tradução pra tupi). Trata-se de, se não me falha a memória, 8 possíveis causas para a extinção ou quase extinção da raça humana na Terra. Por trás, cientistas ditos “os melhores” em cada área. Tem MIT, Columbus, Harvard, Cambridge. Meia dúzia de prêmios Nobel e muito blá, blá, blá. Ah, tem também Stephen Hawking. God bless you.

Não que o documentário não seja bom, até é. O problema é que achei muito parcial, graças a um medo intrínseco que leva a teorias mirabolantes – pra não dizer lisérgicas – sobre como não deixar tudo acabar. Anyway, vale pelo aprendizado de física e pelo visual.

Back to the point. Não acaba! O documentário deixa claro que o ser humano tem um poder de superação quando submetido a pressões externas que não o deixa sucumbir. Tudo depende de onde e como pressionar, o ponto G da existência. Para todas as possíveis causas que podem varrer o ser humano da face dessa bolota azul existem soluções prontas, ou pelo menos prontas em teoria, no papel, mesmo que algumas sejam, como já disse, um tanto lisérgicas. Tudo depende da necessidade. By the way vale lembrar que superamos guerras, epidemias, furacões, enchentes, fome, pragas, discursos do Lula e - quase - toda sorte de mazelas. Necessitávamos de superação para não perecermos e nos superamos, no melhor estilo AAS – Armageddon American Style.

Logo, pode deixar de ser politicamente correto meu amigo, minha amiga. Vale jogar lixo e esgoto nos rios? Vale sim. Usar gasolina em V12 supercharged? Pé na tábua rapaz. Vale queimar florestas? Sem sombra de dúvidas. Viva cada dia como se fosse o último. Eu garanto, não será! Period.

*Marcus é publicitário, ou foi um dia, viveu nos Estados Unidos, já esteve na Inglaterra, jura que tem o título de sir, sempre mente quando perguntado sobre a nacionalidade “I am british”, daí o uso constante da língua inglesa no texto, como uma espécie de dedicatória.
**Vinícius é o mesmo indivíduo acima, apesar de ser uma personalidade distinta dentre as múltiplas presentes nesse peculiar marciano.

Segundo o professor Wolfgang Lutz, líder do International Institute for Applied Systems Analysis's Population Project, o cenário ideal para o final do século XXI seria o de uma população em torno de 6,5 bilhões. Entretanto, o cenário mais provável gira em torno de 10,35 bilhões de pessoas.

Sobre os heróis

Por vezes me pego imaginando as mil possibilidades que viriam bater à porta de minha humilde residência se eu tivesse poderes especiais. Ler mentes, movimentar objetos só com o pensamento, visão além do alcance, voar... Seria tudo tão mais fácil, não?

Nos devaneios vagos de uma tarde sufocante e ociosa de terça-feira veio à mente: Qual o motivo de precisarmos tanto de novos heróis? Ou velhos heróis recauchutados pela computação gráfica. Do final da década de 90 até hoje, um batalhão de semi-deuses bombardeia as telinhas e as telonas de todo o mundo, alguns saídos direto dos quadrinhos, como Spiderman, X-Men, Superman (recauchutado), Batman (recauchutado), Fantastic 4, Silver Surfer, Hulk, etc; outros criados para as séries de TV americanas, como Heroes, The 4400, Kyle XY, Smallville.

Lembro que cresci com os olhos pregados na televisão, vendo através de multifocais de espessura próxima à dos vidros do papa-móvel aqueles homens e mulheres tão especiais. Eles faziam coisas incríveis. Lutavam contra monstros maus, homens maus, fantasmas maus, enfim, lutavam contra o mal, e sempre venciam. Era tudo tão certo ou errado, tão mocinho e bandido, era como se houvesse uma barreira de concreto entre os dois lados, eram muito distintos. Eu com meus 6, 7, 8 aninhos já sabia quem era quem na história, de que lado ficar. E cresci lutando com espadas de plástico, estrelas ninjas de alumínio, armaduras de papelão. Acreditava mesmo que podia voar, tanto que insistia em pular da escada de casa com quase 4 metros de altura. Mas chegou o dia em que as pernas já doíam muito, a TV Manchete acabou e entraram novas personagens ao enredo já meio gasto, as garotas. Pronto, lá se foi o super-herói que vivia dentro de mim.

Hoje sou adulto, fica feio assistir Jiraya, Jiban, Lion Man, Black Kamen Rider. Agora tenho novos heróis, muito mais fortes que os de antes, e até mais humanos, acho que um deles até se parece comigo.

Eles são uma massagem no nosso ego, um placebo para nossa baixa auto-estima. Nos esquecemos de tudo que já conseguimos. Fomos à lua, sobrevivemos a pestes, maremotos, terremotos, colocamos toneladas de aço, carbono e titânio nos céus, levantamos um cristo que abraça toda uma cidade, oferecemos “liberdade” a povos antes oprimidos, desvendamos os segredos do genoma humano, descobrimos como sobreviver com um salário mínimo por mês. Mas tudo isso é pouco, ainda não somos super-heróis, estamos no meio, um pouco pra lá do insignificante, um pouco pra cá do notável.


Mas hoje o céu é o limite pra minha auto-estima. E te digo, caro leitor, com todas as letras, e em maiúsculo, e em negrito, e com exclamação no final: SOU MUITO MAIS EU! Quero ver super-herói estudar até seis da manhã e começar a trabalhar às oito. Quero ver super-herói trabalhar por três anos com apenas duas semanas de férias nesse entremeio. Quero ver super-herói passar noite em claro em um hospital com alguém cuja vida se esvai junto com as lágrimas que caem sobre o travesseiro. Quero ver super-herói fazer a namorada gozar três vezes sem parada pra água (isso acontece com a freqüência com que chove no Atacama, mas acontece). Quero ver super-herói empurrar Fusca velho em via de tráfego rápido. Quero ver super-herói andar 30 quadras em um frio de 15°C negativos, ralar em pé por 10, 12 horas e voltar as mesmas 30 quadras em um frio de 20°C negativos. Quero ver super-herói viver no Brasil. Repito: SOU MUITO MAIS EU!

terça-feira, 4 de março de 2008

Sobre a caminhada


E se foi. Sem contar as horas, nem mesmo os minutos. Foi sem ter medo do que encontraria à frente. Sem pensar no que viria depois daquela imprudente decisão. Mas foi com o coração limpo e a alma lavada, certo de que a vida lhe reservava surpresas mil. Foi sem pensar, sem titubear perante todos os perigos a as provações que a ele viriam, pois achava que assim como os arco-íris, a vida lhe reservava um pote de ouro no final da caminhada.

E eis que da luz veio a sombra, as pedras no caminho eram tantas que se rolava e não mais andava.

A persistência é a arte dos que não têm talento.

Mesmo com toda a luta, a guerra parecia perdida, o suor já parecia doce e os músculos não mais cansados, mas torpes.

E nessas horas o homem - ou mulher - se perguntam: Isso vale a pena? E eis que o poeta embriagado nos diz que “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” E se a alma não for tão grande assim, nem tão pequena que não possa ser sentida? O que fazer com aqueles que estão no meio? Nem mais, nem menos. Aqueles que são meros mortais lutando por um pedacinho do manjar e um trago da ambrosia?

Esses sim, fazem do impossível um filme de faroeste com mocinhos e bandidos em lados bem diferentes, tiram das teclas da velha máquina de escrever sons que mais se parecem com rajadas de kalashnikovs.

E no fim, bem no fim de tudo, esses se sentem bem, um pouco cansados, mas parece que havia um sentido naquilo tudo, algo maior, que passa longe do auto-conhecimento ou da busca pelo seu ser interior de bondade, paciência, respeito.

Como diriam os 100% cariocas: Tudo 171. Ao final de tudo a busca passa a ser por uma desculpa que justifique tudo aquilo que não foi conseguido, apesar de almejado.

O ser humano, desde o dia em que se sentiu um pouco esperto por conseguir pular pra caverna ao lado e - com o perdão da palavra - traçar a macaca do próximo, passou a se esquivar de qualquer erro, de qualquer desaprovação, passou a viver em um estado de negação da própria essência, a imperfeição. A partir daí começamos a rolar montanha abaixo.

Por sorte, poucos chegam a entender isso, vivendo 70, 80, até 100 anos sem questionamentos, sem o “penso, logo existo”, para nossa sorte.

Quando este que os escreve diz nossa sorte, não quer dizer que você, leitor, esteja incluso nesse seleto hall com as fotos meio rasgadas e empoeiradas daqueles que se permitem ser imperfeitos, errar muito mais do que acertar, nem sempre aprender com o erro, daqueles que são humanos, no sentido menos lúdico da palavra.