sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sobre a Janis, o Led Zeppelin, os Beatles e os Rolling Stones

“É tão estranho, os bons morrem jovens. Assim parece ser quando me lembro de você. Que acabou indo embora, cedo demais.” Renato Russo

Certa vez conheci um garoto que à primeira vista era como qualquer outro, com suas incertezas, inseguranças e rebeldia. Isso foi 1995, primeiro ano do ensino médio.

Esse garoto cuja ascendência nunca foi revelada – algo entre turco e libanês – tinha um poder incrível de cativar as pessoas com sua simplicidade e naturalidade, talvez por isso vivesse tão rodeado de amigos.

Uma figura ímpar. Nascido em uma família de classe média alta, tradicional, com posses e sobrenome conhecido lá pras bandas do Triângulo Mineiro, ele optou pela simplicidade. Na verdade acho que nem foi uma opção, e sim o caminho natural a ser percorrido pela sua alma. Não podia ser de outra forma, ele era assim, nem dinheiro, fama ou prestígio poderia mudá-lo. Não sonhava com carros importados e sim com uma Kombi, pois esta seria como seu coração, grande o bastante para caber todos os amigos.

Era uma figura despretensiosa, sem grandes ambições, só sonhava em ser médico, não por dinheiro, conforto ou status, creio eu, mas para continuar cicatrizando as feridas do corpo e da alma das pessoas. Podia ser tudo o que quisesse, era de uma inteligência impressionante, multitalentoso e dono de um carisma que lhe abriria todas as portas que quisesse. Mas como já disse, era despretensioso, alheio aos padrões impostos pelos modismos de uma cidade ainda com ares coronelistas, parecia se divertir com as críticas e olhares infames sobre as suas roupas, seu cabelo, sua barriga, sua linguagem propositalmente chula e seus trejeitos espalhafatosos.

Teve que amadurecer muito cedo, graças à perda prematura do pai. Caiu sobre ele toda a responsabilidade de “homem da casa”, por ser o mais velho filho varão. Tarefa desempenhada com sucesso, que lhes digam os irmãos e a mãe viúva. Talvez por ter amadurecido assim tão rápido, sua missão nessa Terra tenha se completado ainda tão cedo. Quem pode entender os desígnios de Deus? E por isso se foi, se despediu de todos nós naquela curva com o motor em alta rotação e o coração disparado.

Não tive coragem de vê-lo no caixão, queria guardar só as imagens felizes de outrora, por isso fiquei lá, olhando com os cantos dos olhos o perfil da caixa de onde saíam suas mãos pousadas sobre a barriga. Senti-me impotente, sozinho.

Ele não chegou a se formar médico, mas tenho a certeza de que está agora curando as feridas dos que a ele chegam, enfermos de toda uma vida passada nesse planeta.


terça-feira, 6 de maio de 2008

Sobre o certo... e o errado

“A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística.”
Joseph Stalin


O que seria do mundo se não tivéssemos passado por duas grandes guerras mundiais? Deixando de lado por um tempo a nossa humanidade e coesão social; e analisando friamente dados desde o início da 1ª Guerra Mundial em 1914, até os dias de hoje, a conclusão pode ser assustadora. Viveríamos hoje em uma sociedade muito diferente dessa que você conhece.

Durante todo o curso da 1ª Grande Guerra Mundial estima-se que 40 milhões de pessoas morreram, durante a 2ª Grande Guerra Mundial mais de 72 milhões, Vitenam, por volta de 1,6 milhão de mortes, Coréia, 1,5 milhão, Kashmir, Iraque, Afeganistão, Kargil, Palestina, Congo, Ruanda, Haiti, alguns outros milhões. Somando tudo temos centenas de milhões de mortos desde o início do último século.

Sem todas essas guerras, estima-se que a população seria hoje, aproximadamente 20% maior, ou seja, teríamos mais 1,2 bilhão de pessoas utilizando combustíveis fósseis, se alimentando, bebendo água, produzindo esgoto, buscando tratamento médico, etc. Pare por um instante e pense no impacto de tudo isso no status quo atual. Pare e pense na calamidade em que vive o mundo atual e como seria com mais 1 bilhão e 200 milhões de pessoas.

Some a tudo isso o atraso tecnológico que certamente seria parte da realidade atual em que vivemos.
Se um dia foi possível lançar foguetes e telescópios ao espaço, sondas a Marte, ônibus espaciais à Lua; se foi possível atravessar o Atlântico de Londres a Nova Iorque em pouco mais de duas horas, ou dar a volta ao mundo em um helicóptero; se foi possível um dia gerar energia suficiente para iluminar cidades inteiras a partir de gramas de plutônio, deutério ou tório; ou ainda se foi possível este que lhe escreve postar esse texto em um blog na grande rede mundial de computadores ou falar com você ao celular; tudo isso se deve aos avanços tecnológicos provenientes das corridas pré e pós-guerras.

Pense ainda nos avanços da medicina no último século (devido em grande parte, diga-se de passagem, aos experimentos realizados com judeus durante o holocausto), nos avanços jurídicos advindos em grande parte da luta de entidades humanitárias durante confrontos passados, ou ainda nos avanços na agricultura. Você sabia que a base para os pesticidas lançados hoje nas plantações de todo o mundo veio de um componente de armas químicas utilizadas durante a 1º Guerra Mundial?

Seria insano e desumano acreditar que o conforto e a modernidade em que vivemos hoje pode justificar todas as vidas perdidas em um século na escuridão. Vidas essas que ainda se perdem no Oriente Médio, África, Américas Central e Latina, Ásia. Mas que é impossível deixar de pensar no que seria de nós hoje, isso é.