segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sobre a lei e a embriaguez

Está em vigor. Lei que garante penas mais severas e multas mais pesadas para os que dirigirem sob o efeito de álcool já está nas ruas. Bebeu um golinho, suspensão da carteira e multa de quase mil reais. Bebeu muitos golinhos, pode até ser preso.

A eficiência de leis como essa pode ser comprovada em países que passaram a aplicá-la e a cumpri-la. Nos Estados Unidos a punição para aqueles que dirigem embriagados pode ser extremamente severa, vai de aulas obrigatórias e reuniões em Alcoólicos Anônimos até prisão, sem direito a fiança. Na grande maioria dos países da Europa leis semelhantes já vigoram há tempos.

E no Brasil? A coisa vai mesmo funcionar? A fiscalização vai existir? As penalidades serão aplicadas?

Mais do que isso. Essa lei é justa? Ou aplicável no contexto tupiniquim?

Não, não é. O universo em que nós vivemos é completamente diferente do universo dos países de primeiro mundo onde a legislação acerca de álcool e direção realmente funciona. É muito mais fácil simplesmente proibir do que criar meios pelos quais atitudes que coloquem em risco a vida de si próprio e de próximos não sejam tomadas. Cidades como Nova Iorque, Washington, Los Angeles, Londres, Tóquio, Paris, Melbourne, Toronto, entre outras tantas, possuem meios que justificam leis tão severas, penas tão duras.

No Brasil existe uma falsa sensação de direito ao lazer e à diversão. Em lugar algum se especifica que lazer e diversão não incluem uma cervejinha ou um bom vinho. É certo dirigir completamente embriagado arriscando vidas? Definitivamente não! Mas ao mesmo tempo é justo andar a pé e ser assaltado, talvez assassinado? Também não.

Seria muito mais fácil para todos e melhor para o meio ambiente deixar o automóvel em casa e pegar um metrô, ou ônibus para a boate ou bar mais próximo. Isso sim soa justo pra mim. O governo utilizando a verba arrecadada através de tantos impostos sobre o trabalho suado de tantos milhões de brasileiros em transporte público de qualidade e segurança nas ruas, isso sim é justo.

Mas não. É mais fácil proibir e coagir pelo medo, mesmo que um medo um tanto infundado, visto que o número de bafômetros nas ruas e rodovias corresponde a menos de 20% do necessário, ou que parte da polícia se corrompa tão facilmente, visto que a justiça possui tantas brechas que favorecem os que andam à margem da lei.

E com tudo isso nem nos lembramos mais de dossiês fantasmas, dos gringos cada vez mais à vontade para se apropriarem da Amazônia, da máfia das carteiras de habilitação falsificadas, ou mesmo daquela menininha que despencou do sexto andar. Qual o nome dela mesmo?

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sobre os Gersons

Malandragem e jeitinho brasileiro. Não os tenho, não quero tê-los. Pelo menos não no sentido pejorativo, que já nem sei mais se é mesmo pejorativo, já virou eufemismo pra ladroagem. Associação involuntária à essência nacional. Vai desde o ladrão de galinhas até os de colarinho branco. Cada qual querendo ganhar o seu. De preferência sem muito esforço, afinal de contas, o Brasil é um país tropical abençoado por Deus e se esforçar muito cansa, ainda mais sob o sol escaldante dos trópicos. Melhor mesmo é sombra, água fresca e bolsa-família.

O nauseabundo que vos escreve já conheceu muitos brasileiros, de várias regiões, sotaques, crenças, opções sexuais e morais. Figuras ímpares do cotidiano tupiniquim já passaram pelos olhos e ficaram gravadas na memória deste errante. Muitas dessas figuras vieram de encontro ao nauseabundo em noites gélidas de inverno no hemisfério norte, regadas a muita cerveja, tequila, mentira e ferormônios. Alguns em busca de riqueza, outros de diversão. E tudo acabava em pizza, sem trocadilhos.

Em termos gerais, os nativos dessa terra esteriotiparam os brasileiros como um povo alegre, bom de futebol, trabalhadores árduos e competentes, mas pilantras. Isso mesmo, pode dar emprego a um brasileiro, até recebê-lo em sua casa, mas fique com os olhos bem abertos senão eles levam até sua alma. Claro que praticamente todos eles desconhecem praticamente tudo sobre nós. Mas como julgá-los se “nós” mesmos nos apresentamos assim. Tentando levar vantagem sobre tudo e todos. Brasileiro bom é brasileiro esperto, que paga menos e ganha mais do que o outro. Não é mais ou menos assim que grande parte de nós leva sua vida?

Minhas sinceras desculpas pela generalização apressada, mas assistir o telejornal faz qualquer um acreditar que essa condição é regra e não exceção. E depois de viver quase um ano entre brasileiros em um país que não o nosso reforça ainda mais essa crença.

É possível ver de tudo um pouco, de falsificação a latrocínio, passando por fraudes, estelionato e, claro, prostituição, que o diga o governador de Nova Iorque. O primeiro conselho dado por um brasileiro nessas terras: Não confie em brasileiros! Simples assim. Afirmação clara e concisa, sem meio-termo. Claro que um pouco exagerada, mas ainda assim bastante útil.

Em conversa com outro nauseabundo errante recém-chegado de terras orientais, a mesma constatação e uma informação que deixa qualquer tupiniquim envergonhado. Na terra do sol nascente a maior comunidade carcerária imigrante é de - adivinhe?! - brasileiros. Em algumas cidades com alta concentração de dekasseguis – pessoas que emigram para o Japão em busca de trabalho – há mais brasileiros nas cadeias do que os próprios nativos.

Aqui vai um apelo desesperado de um brasileiro que trabalha muito e só tem o que é seu por direito: Não façam isso! Não manchem a imagem de todo um povo em busca de benefícios pessoais e realizações materiais. O nosso povo é muito mais do que isso. Não queremos ser barrados em um posto de imigração espanhola e tratados como vendedores de sexo, não queremos ver americanos nos negando a abertura de uma conta bancária, não queremos um japonês mudando de calçada ao passar por nós. Só queremos respeito em países em que somos convidados - repito: convidados - a visitar ou morar.