terça-feira, 15 de abril de 2008

Sobre a nudez


Nunca gostei de me abrir, de deixar as pessoas me conhecerem muito bem. Exceto por aquelas a quem me apegava, por vontade ou necessidade. Hoje descobri que todo mundo me conhece. Sabem do que gosto, do que quero, quem já fui, quem nunca vou ser. Todo mundo sabe tudo. Sou um livro aberto de onde adjetivos, substantivos e verbos se desprendem esvoaçantes para entrar na casa de qualquer um. A culpa de tudo isso: INTERNET.

Isso mesmo, a mais importante invenção desde o transistor. A internet. Peraí que já explico. Mas antes gostaria de contar duas coisas importantes. Primeiro sobre a minha id. Ela é inconstante, latente e escusa. Perambula por caminhos sombrios e enlameados, com prostitutas mancas vendendo aceitação em frente a um bar com porta de madeira, tipo aquelas dos bares dos filmes de faroeste. Ela funciona à base de criatividade, cerveja e despudor, não necessariamente juntos. Segundo sobre o que a primeira me leva a fazer. Algumas passagens me envergonham e estão trancadas na cela mais fria, escura e úmida do meu superego.

Voltando à internet. Ela é responsável pela minha nudez social. Quem consegue resistir a um bom site de relacionamento? Parece que foram criados pra cimentar a lacuna entre você e qualquer um no mundo. Me senti parte de algo maior. Era como se eu tivesse o mundo dentro do meu Pentium 2. E sorrateiramente esses sites me fizeram acreditar que todos aqueles profiles eram de seres humanos bons, tão solitários quanto eu; e que queriam me conhecer.

Contei tudo, ou quase tudo. Nove páginas de perfil no Orkut. Outras tantas no Hi5, mais algumas no Tagged, no Flickr, no MySpace, no PlixNet, entre outros. Um vício alimentado pelos e-mails de amigos com convites pra me associar a mais um grupo social. Vinha aquela falsa sensação de que enfim eu fazia parte de um grupo, aliás, de vários. Podia caminhar entre os nerds, os ricos, os pobres, os loucos.

Mas numa tarde ociosa de terça-feira a verdade veio ao meu encontro e me esbofeteou com sua mão pesada e polida. Não era parte de nada. Os que não eram meus amigos antes continuam não sendo, os que eram ainda são, os novos estão em estado probatório; e por aí vai. Não mudou nada, exceto pelo fato que agora todo mundo sabe tudo de mim. PLAFT!!! Outra esbofeteada da verdade. É mentira. Ninguém sabe nada a mais, pois quem nunca se interessou não passou a se interessar e ler as letras miúdas dos meus perfis, os que se interessavam não precisaram ler pois já sabiam. Continua tudo do jeito que estava há 10 anos atrás.

E assim despeço-me dos sites de relacionamento. Quem quiser me conhecer, me reencontrar, telefonar, conversar, que me procure na lista telefônica ou na de foragidos. Sem mais scraps, depoimentos ou mensagens instantâneas.

P.S.: Só conheci uma pessoa com menos de 50 anos de idade que conseguiu resistir às tentações das redes de relacionamento. Muito mais por medo do que por vontade. Não é Paulinha?

P.P.S.: Dez minutos depois de postar, ao abrir o Orkut pra cancelar minha conta, desisti. Vai continuar tudo do mesmo jeito. Scrap, depoimento e mensagem instantânea. É mesmo muito mais fácil falar do que fazer.



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