terça-feira, 1 de abril de 2008

Sobre o BOOM, CRACK, PLAFT, BANG!!!

Onomatopéia: figura de linguagem que designa expressões ou palavras cuja sonoridade imita a voz ou ruídos de objetos ou animais.

Fui publicitário um dia, deixei de ser, voltei a ser e continuo sendo até segunda ordem. Sempre convivi com os modismos da profissão. A máxima “Nada se cria, tudo se copia” sempre esteve presente nos reclames publicitários, mas parece que atualmente a coisa desandou. Ficou descarado demais.

Um exemplo claro vem dos anúncios de magazines. Em 30 segundos de VT você não consegue passar mais de três sem ouvir um estridente BOOM, CRACK, PLAFT e/ou BANG!!! Já nem sei mais quem é locutor e quem é FX, misturou tudo.

Será mesmo necessário tanto ruído para se conseguir a atenção do consumidor e fixar a mensagem em seu subconsciente? Não sei, só sei que todo mundo faz então vou fazer também.
A coisa já estava me incomodando muito, mas o caldo entornou de verdade quando vi o reclame de uma universidade particular anunciando um plantão de vestibular com todos os BOOMS, CRACKS, PLAFTS e BANGS acima, e mais alguns outros que nem me recordo. Melhor assim. Aí não!!! A brincadeira ficou sem graça. Como sou o dono da bola, vou levar comigo e ninguém brinca mais. Universidade não! Não pode! Foge de tudo que mamãe disse ser certo.

Amigo, amiga. Apesar de algumas parecerem, universidade não é celular, não é televisor, não é cama de casal, muito menos armário. Não se anuncia como um bem de consumo semidurável. Nem universidade, nem plano funerário e nem casa de massagem.

Estava atordoado diante do que vi, resolvi então sair no encalço do responsável por aquela barbárie. Contatei amigos da CIA, subornei fontes do governo e contei até mesmo com a ajuda de Jack Bauer para rastrear o paradeiro do alvo. Me aproximei, paguei para ele uma cerveja, conquistei aos poucos sua confiança e puxei conversa como quem não quer nada. Tive a confirmação. Ele era apenas um mero publicitário seguindo ordens de alguém muito mais poderoso: o cliente. Com os olhos marejados e um nó na gargante ele me confessou: “Tentei argumentar, mas o cliente estava irredutível. Era sua palavra final. O anúncio teria que ser como o do magazine local”. Ele se deu por vencido e por medo de represálias contra a sua vida e a de sua família acatou as ordens.

Cliente, peço encarecidamente. Não faça isso. Dê ouvidos a nós, simples mortais, publicitários.

Um ex-patrão costumava me dizer que odiava “achismos”. Acho isso, acho aquilo. Concordo com ele. Nada pior que um empresário achar que seu cliente é assim ou assado, simplesmente por achar. Não se conhece bem uma pessoa antes de uma boa pesquisa e de muita observação empírica. Acreditar no contrário é atribuir ao ser humano uma complexidade inferior à de uma cabra.


Já ouvi muitos pseudo-especialistas gritarem em alto e bom tom que seus clientes não entenderiam, nem gostariam de uma campanha de bom gosto, limpa, inteligente, simplesmente porque esses clientes seriam de classes C, D ou E.

Desde quando dinheiro ou estudo garantem necessariamente bom gosto e inteligência?

Desde quando é necessário ser milionário para se visitar o MASP? Desde quando é necessário ser PHD em física quântica para acessar a internet e baixar a obra completa de Machado de Assis?

Caro leitor, cara leitora, não se deixe levar pela tentação de estereotipar indivíduos pela escolaridade ou classe social em que estas se encontram. Você pode acabar descobrindo que mesmo sendo classe A, você ainda está na classe E.

P.S.: Nunca confunda conhecimento com inteligência. Há uma grande diferença entre essas duas palavras.

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