terça-feira, 4 de março de 2008

Sobre a caminhada


E se foi. Sem contar as horas, nem mesmo os minutos. Foi sem ter medo do que encontraria à frente. Sem pensar no que viria depois daquela imprudente decisão. Mas foi com o coração limpo e a alma lavada, certo de que a vida lhe reservava surpresas mil. Foi sem pensar, sem titubear perante todos os perigos a as provações que a ele viriam, pois achava que assim como os arco-íris, a vida lhe reservava um pote de ouro no final da caminhada.

E eis que da luz veio a sombra, as pedras no caminho eram tantas que se rolava e não mais andava.

A persistência é a arte dos que não têm talento.

Mesmo com toda a luta, a guerra parecia perdida, o suor já parecia doce e os músculos não mais cansados, mas torpes.

E nessas horas o homem - ou mulher - se perguntam: Isso vale a pena? E eis que o poeta embriagado nos diz que “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” E se a alma não for tão grande assim, nem tão pequena que não possa ser sentida? O que fazer com aqueles que estão no meio? Nem mais, nem menos. Aqueles que são meros mortais lutando por um pedacinho do manjar e um trago da ambrosia?

Esses sim, fazem do impossível um filme de faroeste com mocinhos e bandidos em lados bem diferentes, tiram das teclas da velha máquina de escrever sons que mais se parecem com rajadas de kalashnikovs.

E no fim, bem no fim de tudo, esses se sentem bem, um pouco cansados, mas parece que havia um sentido naquilo tudo, algo maior, que passa longe do auto-conhecimento ou da busca pelo seu ser interior de bondade, paciência, respeito.

Como diriam os 100% cariocas: Tudo 171. Ao final de tudo a busca passa a ser por uma desculpa que justifique tudo aquilo que não foi conseguido, apesar de almejado.

O ser humano, desde o dia em que se sentiu um pouco esperto por conseguir pular pra caverna ao lado e - com o perdão da palavra - traçar a macaca do próximo, passou a se esquivar de qualquer erro, de qualquer desaprovação, passou a viver em um estado de negação da própria essência, a imperfeição. A partir daí começamos a rolar montanha abaixo.

Por sorte, poucos chegam a entender isso, vivendo 70, 80, até 100 anos sem questionamentos, sem o “penso, logo existo”, para nossa sorte.

Quando este que os escreve diz nossa sorte, não quer dizer que você, leitor, esteja incluso nesse seleto hall com as fotos meio rasgadas e empoeiradas daqueles que se permitem ser imperfeitos, errar muito mais do que acertar, nem sempre aprender com o erro, daqueles que são humanos, no sentido menos lúdico da palavra.

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